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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Autismo e Afetividade

L.S, 3 anos, durante uma consulta com sua mae Deise de Andrade Santos, 28, no ambulatório de autismo do HC
Com três anos, L.S. ainda não fala, mas sua mãe, Deise, 28, tem esperança de que ele desenvolva essa capacidade.

L.S, 3 anos, durante uma consulta com sua mae Deise de Andrade Santos, 28, no ambulatório de autismo do HC
Seu filho é autista. Anda pela casa de olhos fechados e passa muito tempo girando o corpo. Quando quer algo, L.S. agarra a mão de Deise para comunicar seu desejo.
"Ele é muito carinhoso, sempre retribui os meus beijos e abraços. E percebe quando estou triste, chega até a parar de comer", diz.
A dona de casa Joana também testemunhou um ato de empatia por parte de seu filho, Tiago. Autista de grau moderado, o jovem de 25 anos percebeu que a mãe estava abalada com a morte de um parente e quis confortá-la: "Ele oferecia a camiseta dele para secar as minhas lágrimas", conta.
Ainda que não se saiba se a troca de afetividade entre mãe e filho seja mera imitação de gestos por parte do autista, há pesquisas que contradizem a ideia comum segundo a qual os autistas são frios e alienados.
Um estudo conduzido na Queen's University, Canadá, com 15 crianças autistas, avaliou a capacidade que elas tinham para contar e sustentar uma mentira.
Os pesquisadores perceberam que 12 dessas crianças eram capazes de contar "mentiras piedosas", cujo objetivo é não desapontar as expectativas dos outros.
Quando recebiam um presente que não gostavam (um sabonete, no teste), eles mentiam para não magoar quem os havia presenteado.

NEM TÃO RÍGIDOS
Para Gustavo Giovannetti, psiquiatra da Unifesp, a habilidade que os pesquisadores detectaram não pode ser generalizada para todos os espectros de autismo, muito menos para casos mais severos, mas confirma teses mais atuais a respeito do tema.
"O que a pesquisa mostra é que o desenvolvimento dos autistas não é tão fechado e que seus sintomas não são assim tão rígidos", afirma.
Segundo o psiquiatra Estevão Vadasz, coordenador do ambulatório de autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, o mérito do estudo é desafiar o senso comum sobre a frieza dessas pessoas.
"É preciso acabar com esse mito de que autistas não têm afetividade. O que eles têm é dificuldade para demonstrar sentimentos por causa de suas limitações em se comunicar", diz.
A reportagem da Folha visitou na sexta-feira (15) o ambulatório em que o médico atende no HC, em meio a atividades lúdicas como a presença de contadores de história e cães terapêuticos.
Um de seus pacientes, o adolescente F.V., 15, estava acompanhado pela mãe, Angela. "Ele começou a ficar agressivo. Bate em mim e quebra tudo se não é atendido. Não tenho mais força para controlá-lo. Já pensei até em interná-lo", desabafa.
Vadasz afirma que mesmo o comportamento agressivo de F.V. é uma prova de que ele tem emoções.
"A raiva é uma demonstração de seus sentimentos e de sua frustração por não conseguir exprimir um desejo."
Um diagnóstico precoce, diz o médico, pode melhorar as perspectivas de jovens autistas: "Quanto mais cedo a criança for tratada, maiores as chances de desenvolver capacidades de interação".
Sinal que pode ser promissor para o pequeno L.S., que ainda não consegue falar.
"Ele é muito novo ainda, quem sabe até os seis anos não seja capaz de desenvolver a comunicação verbal?", afirma o médico.

Reportagem retirada do site: folha.uol.com.br

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