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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Café com Conhecimento: Conversa com o Pediatra Alergista Isaac Azevedo Tenório


CAFÉ COM CONHECIMENTO


Nessa rodada de Café com Conhecimento contamos com o Dr Isaac Tenório falando sobre alergias alimentares e sua relação com o autismo.


Isaac Azevedo Tenório

Médico formado pela UFAL - Universidade Federal de Alagoas, também cursou Administração de Empresas pela AIEC. Fez sua residência médica na Fundação Hospitalar do Distrito Federal em medicina interna e em radiologia e diagnóstico por imagem na Fundação José Normanha/Instituto Goiano de Radiologia. Com Especialização em Alergia Alimentar e Pediatria pela UNIGRANRIO. Co-Autor do Manual de Alergia Alimentar publicado pela editora Rubio.
Telefone para contato: +55 (99) 9951-4991


Santa de Casa Faz Milagre: Poderia explicar um pouco a teoria da relação entre alergia e autismo?

Dr. Isaac Tenorio: É uma teoria que foi publicada na revista de alergias alimentares.
Nós acreditamos que o sistema gastrointestinal é o maior sistema neuroendócrino fora do sistema nervoso central. Existem mais de 100 milhões de neurônios autônomos no sistema nervoso central. Esses neurônios ficam expostos ao processo inflamatório existente durante um processo de alergia alimentar e são afetados pelo sistema imunológico que reconhece esses neurônios como agentes agressores. Este linfócito, uma vez ativado, cai na circulação sanguínea e procura outros neurônios para afetar. Assim, encontrando os neurônios do sistema nervoso central, levando a doenças degenerativas ou ao autismo.
Essa teoria tem uma comprovação: existe o sistema imunológico com sistema nervoso central com drenagem linfática para os gânglios cervicais posteriores. Em um trabalho nosso, também publicado, nós mostramos que existe no cerebelo, do lado esquerdo, um processo inflamatório (isto detectado através de ressonância magnética) que justifica nossa teoria com o aumento de glutamato, que é o agente que na espectroscopia de ressonância corresponde ao processo inflamatório.


Santa de Casa Faz Milagre: As crianças já nascem alérgicas?

Dr. Isaac Tenorio: As crianças normalmente desenvolvem alergias. Lógico que uma criança, filha de pais alérgicos, que já tem um alérgico na família, tem uma chance muito maior de desenvolver alergias. Seja ela qual for. Uma alergia alimentar vai se desenvolver também pela apresentação precoce dos antígenos, como leite de vaca ou qualquer outro elemento que seja dado. Na nossa cultura, o comum é darmos leite de vaca, leite de lata, e o leite maternalizado, que existem várias marcas no mercado e isso facilita muito o consumo. Essa introdução muito precoce na vida da criança é um dos cofatores. Um outro cofator é o uso de antibióticos de forma excessiva. O excesso de higiene e a questão genética entram como um grande fator propulsor de tudo.


Santa de Casa Faz Milagre: O NAN dado na maternidade realmente é tão prejudicial?

Dr. Isaac Tenorio: Sim, a criança ao nascer não produz ácido gástrico. Ela vem com o sistema gastrointestinal imaturo. Então sem o ácido que seria o primeiro fator para a digestão, ele não vai conseguir induzir as enzimas gastrointestinais a fazer essa quebra do leite. Então esse leite entra em contato num momento especial da vida do bebê em que ele não produz ácido gástrico, essa produção se inicia 48 horas depois do nascimento para que seja absorvido, nesse momento, o leite materno - o colostro - que vai dar a proteção da criança (depois de 48 horas ela fechou a possibilidade da absorção desse colostro). Quando a maternidade oferece o leite de vaca, que é uma proteína não própria, que a criança não reconhece o DNA, cria ali um processo inflamatório contra esse tipo de proteína.


Santa de Casa Faz Milagre: Poderia explicar a diferença entre IGG, IGE E IGM?

Dr. Isaac Tenorio: São imunoglobulinas, são anticorpos, são fatores de proteção que as nossas células produzem que vão dar proteções diferentes. Ficou esquecido aí a IGD que é produzida em menor quantidade e não se fala muito dela.
A IGG tem poderosa ação de proteção a longo prazo; aquele anticorpo de memória, como a catapora que se tem uma vez na vida porque você tem o linfócito de memória e um anticorpo de memória que é o IGG.
A IGM é produzida no processo agudo, uma infecção viral ou uma dor de garganta... nos primeiros 4 meses a produção é de IGM.
A IGE é um anticorpo produzido, a princípio, para proteção contra agentes parasitários. Uma vez não existindo agentes parasitários, ele pode nos levar ao desenvolvimento das alergias. São nesses dois momentos que a IGE é requerida, para o desenvolvimento das alergias e para a proteção contra agentes parasitários como as lombrigas.


Santa de Casa Faz Milagre: Existem muitos exames de alergia: alguns de sangue, de saliva e o prick test. Qual desses é o correto?

Dr. Isaac Tenorio: O exame correto é o que o médico solicitar. E que ele saiba interpretar a gravidade e o grau da alergia. Se você pensar que a alergia é uma doença multisistêmica e clínica. Nós não teremos nenhum exame e um ponto específico que fale de gravidade que possa ser melhor interpretado do que a clínica que cada pessoa tem. Se você é uma pessoa que tem a clínica muito grave com IGE baixo e outros tem uma clínica muito natural que não tem grande importância, não leva risco de vida com IGE muito alto. Então isso depende da interpretação do médico frente a história clínica e ao exame físico de cada paciente e de forma individual.


Santa de Casa Faz Milagre: Qual a relação das alergias com a relação CD4 e CD8?

Dr. Isaac Tenorio: A relação CD4 e CD8, nos revela para que polo da alergia das doenças imunitárias você está sendo direcionado. Se é para um grau de hipersensibilidade ou para um grau de processo inflamatório, diante das características e da localização desse tipo de linfócito, ambos são linfócitos T e elas diferem dessa forma.


Santa de Casa Faz Milagre: O que é deficiência de IGA e como tratar?

Dr. Isaac Tenorio: Deficiência de IGA é a imunodeficiência de um anticorpo que dá a nossa proteção contra infecções respiratórias e outras. Principalmente quando a gente pensa que é um único anticorpo capaz de agregar a peça secretora e ser excretado em nossas mucosas, como por exemplo, a saliva, a lágrima, dentro da bexiga e dentro do tubo digestivo. Então ele pode ser tratado com dieta. Assim são feitos o tratamento e as orientações corretas. Normalmente com regularização do processo ela melhora e eleva novamente.
Ainda sobre a questão da IGA, não existe, até o momento, a forma de fazer reposição de IGA como acontece nos casos de deficiência de imunoglobulina G.


Santa de Casa Faz Milagre: A questão do IGE com 2198 com PRICK TEST para apenas 6 alimentos que nunca foram consumidos, pode considerar que essa pessoa tenha alergia alimentar?

Dr. Isaac Tenorio: Depende da história clínica, das queixas e da realização clínica para alergia alimentar, que é uma pontuação que nós desenvolvemos para facilitar para que o clinico, o pediatra, ou geriatra (o médico) possa fazer esse diagnóstico.


Santa de Casa Faz Milagre: Qual exame mais confiável? IGE específico no sangue ou Prick Test?

Dr. Isaac Tenorio: O IGE específico no sangue só vai dar positivo nos casos que forem IGE mediado. Já o Prick Test pode dar positivo tanto no IGE mediado quanto no não mediado. Eu prefiro, na minha prática clínica, utilizar o Prick Test.


Santa de Casa Faz Milagre: IGE especifico deu alergia a ovo, milho e frango e no prick não deu? Qual mais confiável?

Dr. Isaac Tenorio: Isso vai depender da prática clínica e da orientação do médico que está observando.


Santa de Casa Faz Milagre: CD4 e CD8 de 1,5 com rodízio de alimentos baixa para 1,2. Essa alteração pode se dar pelo uso de probióticos?

Dr. Isaac Tenorio: Sim, pode ser o uso de probiótico ou por má orientação desse rodizio. Depende de quantos dias tem o rodizio, ou como foi feito. São esses detalhes que tem que ser revistos, ou se não houve alguma intercorrência durante este período de observação e de tratamento. Muitas vezes você está fazendo certo, mas em algum momento houve um erro que teve a reativação do processo e houve essa baixa posterior. Isso às vezes acontece. Tem que retornar ao médico que está fazendo a orientação dietética para que seja revisto.


Santa de Casa Faz Milagre: Algum remédio ou suplemento ajudam o CD4 e o CD8 a normalizar quando muito baixos?

Dr. Isaac Tenorio: Não há nenhum remédio específico para regularizar CD4 e CD8. A única forma que conhecemos é, realmente, a dieta.


Santa de Casa Faz Milagre: O que significa CD56 baixo?

Dr. Isaac Tenorio: CD56 é um linfócito chamado natural killer. Se ele está baixo é porque tem uma deficiência. Infelizmente nós não conseguimos medir se existe uma deficiência na função dele ou se é só em números, mas o laboratório atual disponível é que o CD56 baixo depende da interpretação clínica do médico que está acompanhando o paciente.


Santa de Casa Faz Milagre: É necessário que a criança esteja em dieta sem glúten, caseína e açúcar para seguir a dieta de rotação?

Dr. Isaac Tenorio: Normalmente, dependendo do caso, se retira esses alimentos. Se estou diante de uma criança com autismo ele normalmente já é apresentado sem o consumo desses elementos. Se é uma criança que está em enteropatia, a proteína da dieta, depende qual proteína está envolvida e do perfil imunológico que ela apresenta.


Santa de Casa Faz Milagre: Há casos de criança recuperadas apenas com dieta de rotação?

Dr. Isaac Tenorio: Sim. Há várias crianças recuperadas em nosso consultório. Já conseguimos dar alta e recuperá-las da alergia alimentar.


Santa de Casa Faz Milagre: De quanto em quanto tempo o prick test deve ser refeito?

Dr. Isaac Tenorio: Normalmente eu repito a cada 6 meses para orientação da dieta e orientação da família.


Santa de Casa Faz Milagre: Qual o propósito da terapia com PREDSIM? Quando ele é indicado?

Dr. Isaac Tenorio: A terapia do Predsim tem o propósito de melhorar e reduzir o processo inflamatório existente no sistema nervoso central. Ela tem indicação quando existe a suspeita desse processo.

Santa de Casa Faz Milagre: É verdade que após 12 anos de idade algumas alergias alimentares podem normalizar sem nenhuma intervenção?

Sim. Na entrada da adolescência existe um pico de desenvolvimento do sistema imunológico e pode acontecer a melhora de todas as alergias, não só as alimentares, as respiratórias também, como as bronquites e asmas.


Santa de Casa Faz Milagre: Crianças recuperadas precisam manter a dieta para sempre ou somente se for uma alergia a um alimento específico mantém a restrição deste?

Dr. Isaac Tenorio: As crianças recuperadas de um processo alérgico devem manter a dieta conforme a orientação do médico que as acompanha. Nós orientamos a manutenção até a cura imunológica; até a regulação do sistema imunológico.


Santa de Casa Faz Milagre: É possível uma criança ter uma alergia cerebral e não autismo? Ela tem chance de recuperação?

Dr. Isaac Tenorio: A nossa crença e o que tem publicado refere que é possível, pois o autismo é uma doença alérgica. E acreditamos que toda doença alérgica bem orientada, pode levar a cura do paciente. Esse é o nosso desejo. Estamos a caminho disso e ainda existe um longo caminho de pesquisa para se chegar à cura das alergias. Mas uma boa orientação, uma boa definição do quadro, um bom estudo imunológico e o acompanhamento do paciente é que vai dizer se ele está melhor ou não.



Muito obrigado, Dr. Isaac, por nos apresentar as respostas para as nossas dúvidas e de tantas outras pessoas.









sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Tenho um filho Autista, e agora?

Se você acabou de receber um diagnóstico de autismo para seu filho, você vai ter uma das duas reações:

Respirar aliviada porque, enfim, tem um diagnóstico, ou chorar, chorar, chorar.
A primeira acontece depois que a gente vem de uma verdadeira romaria em médicos, tentando descobrir o que está acontecendo com nosso filho. Por incrível que pareça, por pior que seja o diagnóstico, pelo menos temos um ponto para começar, e isso é bem melhor do que a impotência que sentimos quando, consulta após consulta, a única coisa que escutamos é: seu filho tem alguma coisa errada, só não sei o que é. Nessas idas e vindas você chora tanto, passam tantas possibilidades pela sua cabeça, toma conhecimento de tantas doenças que existem e que você nem imaginava, que ao receber o diagnóstico tudo que você quer é se focar no “espectro autista” e ir atrás de alternativas que, com certeza, existem.
A segunda é quando o diagnóstico é feito mais rapidamente e os pais não tiveram tempo de se acostumar com a tal idéia de que “seu filho tem alguma coisa errada, só não sei o que é”.
É uma bomba caindo em cima de sua cabeça. Por isso o melhor a fazer é chorar, chorar, chorar.
Mas, com um detalhe, longe de seu filho. O fato dele não conseguir se comunicar, não significa que ele não consiga entender. Crianças autistas que tiveram grandes melhoras e até que perderam o diagnóstico, falam que conseguiam entender várias coisas, mas não conseguiam se comunicar.
Depois que tiver chorado bem, pare e repare numa coisa:
O mundo parou por causa do seu sofrimento? Não.
Alguém, depois de ver suas lágrimas, ficou com pena de você e resolveu ir atrás do que pode ser feito por seu filho? Raramente. Algumas pessoas que têm um filho especial foram premiadas com uma família e amigos mais que especiais também. Mas são poucas. E mesmo assim, essas pessoas não vão fazer nada sem você. Elas vão te ajudar. Mas a procura é sua.
Vocês conhecem o texto de Cora Coralina, “A Procura”?
A Procura
 (Cora Coralina)

Andei pelos caminhos da Vida
Caminhei pelas ruas do Destino -
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei na casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a porta da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez me beber de seu vinho.
Acertei meu caminho.



Pois é, a nossa porta é a da Fortaleza.
Isso quer dizer que não adianta ficar derramando lágrimas, elas não se transformam em suor.
E é justamente de muitas gotas de suor que precisamos, para correr atrás de ajuda para nossos filhos.
O autismo, hoje chamado de Transtorno Pervasivo de Desenvolvimento, é uma síndrome.
Isso significa que as crianças que estão dentro desse espectro vão ter características, muitas vezes, diferentes. Existem vários comportamentos, particularidades e sinais. Cada criança vai ter uma combinação própria. O s prejuízos podem ser na interação social, na comunicação verbal e não-verbal, no brinquedo imaginativo, no comportamento e nas estereotipias. Por isso, dificilmente vai existir uma “fórmula” única para tratá-las.
O que podemos fazer é começar a reparar nas particularidades de cada uma e tentar descobrir o que já funcionou, ou pode funcionar em cada caso. O mais importante é que, enquanto procuramos, elas estejam bem assistidas por psicólogos, psiquiatras, terapeutas, fisioterapeutas e fonoaudiólogos.
Isso porque, de acordo com várias pessoas que tratam de autistas, quando essas crianças apresentam determinado nível de melhora estão como se tivessem saído de um estado de coma. O cérebro fica apto a absorver e processar um determinado nível de informações, que varia de criança para criança. Mas qualquer nível que seja, ela vai ter que se adaptar à nova realidade. É bom que já estejam sendo preparadas para essa realidade.
Não somos médicas, o que falamos aqui é simplesmente fruto da observação e de muita leitura. Em nenhum momento pretendemos substituir algum profissional.
Pelos casos que temos visto, achamos que a primeira coisa a ser feita é um EEG. Lógico, se ainda não tiver sido feito.  Apesar das estatísticas indicarem que só 30% dos autistas têm epilepsia, na vida real esse número é bem maior. Estamos acostumados a achar que epilepsia é sinônimo de convulsão, e não é só isso. Ausências são um tipo de epilepsia também. São pequenas “desligadas” que as crianças dão. E muitas vezes demoramos a perceber. Às vezes, nem mesmo percebemos. Se não tiver nada, ótimo. Se tiver, o neurologista vai saber a melhor atitude a ser tomada.
Mais duas avaliações simples devem ser feitas. Uma no oftalmologista e outra no odontologista. Algum problema nessas áreas é relativamente fácil de ser identificado.
Nos EUA, os chamados biomédicos, têm tido grande sucesso no tratamento de autistas. Eles consideram que essas crianças têm um sistema imunológico fraco, que não consegue desintoxicar adequadamente seu organismo.  A causa da criança “ser” autista pode ser genética, afinal a prevalência do número de meninos em relação às meninas já é um indicativo disso. Mas a genética não explica o aumento do número de casos de autismo nas últimas décadas, como não explica o aumento de doenças como esclerose múltipla, câncer, fibromialgia e muitas outras.  O que parece ter aumentado são os fatores que fazem com que essas doenças se manifestem, sejam ativadas. E que fatores mudaram tanto nos últimos anos? A alimentação, a poluição, o uso de produtos químicos, de conservantes, etc. É uma lista sem fim.  Esses tratamentos biomédicos, para crianças autistas, se baseiam em desintoxicação de alimentos e metais pesados, nutrição e tratamento de problemas intestinais.
São eles que temos estudado e são informações sobre eles que temos procurado colocar nesse blog. De certa forma, mais uma vez lembrando que não somos médicas, é a forma que temos de tentar melhorar um pouco a qualidade de vida dessas crianças. Elas já foram comparadas aos “canários nas minas de carvão”, em alusão aos pássaros que são colocados em minas para medir o grau de intoxicação do ambiente. Devido à fragilidade de seus organismos, mesmo um baixo nível de intoxicação pode matá-los. Quem sabe nossas crianças são realmente supersensíveis ao meio ambiente? E enquanto a Medicina não consegue descobrir a causa disso, que mal há em desintoxicá-las e nutri-las melhor?