sábado, 15 de novembro de 2014

Estudo de Alysson Muotri reforça a tese de que o autismo pode ser reversível.





ESTUDO DE BRASILEIRO NA CALIFORNIA ESTARIA PERTO DE CURA PARA AUTISMO
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL “O GLOBO”, EDIÇÃO DE 12/11/2014 – PÁGINA Nº 28
POR FLÁVIA MILHORANCE
TRANSCRIÇÃO
Liderado pelo biólogo molecular brasileiro Alysson Muotri, um novo estudo da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), nos EUA, reforça a tese crescente que o autismo pode ser reversível e se aproxima de um medicamento para “curar”  o transtorno.
A pesquisa foi publicada ontem na versão on-line da “Molecular Psychiatry” da revista Nature.
Trata-se da apresentação da segunda etapa de um estudo publicado em 2010 e que, na época ganhou a capa da “Cell”, uma das principais revistas científicas do mundo, ao mostrar que os neurônios eram mais plásticos do que se pensava e que o autismo poderia ser curado.
Na ocasião, através da técnica de reprogramação celular, os pesquisadores transformaram células da pele de pessoas com a Síndrome de Rett, que é um dos tipos graves de autismo e que ocorre por mutações num único gene: o MeCP2.
Dessa forma, poderiam estudar a fundo o comportamento das suas células cerebrais; depois, aplicaram um medicamento experimental e notaram reversão nos efeitos genéticos.
DEFEITOS SÃO REVERSÍVEIS
Neste novo segmento, os cientistas da UCSD focaram o autismo clássico (ou não sindrômico). Ao contrário da Síndrome de Rett, o tipo clássico tem vários genes envolvidos, e sua base genética ainda é pouco conhecida.
Da mesma forma que no estudo anterior, foram reprogramadas células, mas agora da polpa do dente de leite de pessoas afetadas. Elas foram transformadas em neurônios de um autista clássico.
Em seguida, houve o sequenciamento genético do voluntário para mapear seus genes defeituosos.
Várias mutações foram encontradas, entre elas uma que acumula uma das cópias do gene TRPC6.
Em camundongos, os cientistas confirmaram que essa mutação leva à redução de sinapses e alterações morfológicas dos neurônios.
Além disso, observaram que os níveis de MeCP2 (da Síndrome de Rett) afetam a expressão de TRPC6, revelando um caminho molecular aos dois tipos de autismo.
Finalmente, foi aplicado um medicamento que está sendo testado em humanos para tratar a Síndrome de Rett (o IGF-1) nos neurônios do autismo clássico, e notou-se que o efeito também foi positivo.
Isso reforçou a idéia de que é possível reverter os efeitos dos neurônios, ou seja, que transtorno pode ser curável.
- É possível que, no futuro, essa tecnologia sirva como ferramenta de diagnóstico, determinando a qual o tipo de autismo cada pessoa possa estar vulnerável e possíveis terapias e medicamentos que a auxiliem.
Quanto antes o diagnóstico no autismo, melhor o tratamento afirmou Muotri ao GLOBO.
Segundo o pesquisador, a combinação de reprogramação celular e sequenciamento genético abrirá portas da medicina personalizada voltada para diversas condições mentais.
No futuro ele crê  que cada autista terá seu genoma sequenciado para o teste de drogas mais adequadas; esse método já vem sendo bastante empregado no tratamento do câncer, por exemplo.
- Estamos bem no começo (da medicina personalizada) – contou Muotri – é preciso alinhar o sequenciamento genético que está mais acessível financeiramente, com a modelagem por células-tronco, algo que ainda é caro e impossível de fazer para todo mundo.
Assim que essas tecnologias evoluírem e ficarem mais baratas, veremos mais e mais da medicina personalizada.


MINICÉREBROS EM LABORATÓRIO
De acordo com o biólogo, esse será o caminho da ciência no futuro – mas já em alguns anos:
- Todos teremos nossos “minicérebros” em laboratório, que serão usados para diagnóstico, teste e dosagem de medicamentos antes de se tentar no paciente.
A partir desse estudo, os pesquisadores da UCSD vão buscar expandir as observações para outros tipos de autismo, tentando como diversas mutações convergem as vias moleculares comuns.
O objetivo é definir novos medicamentos que possam ser testados em humanos.
Sintomas do espectro autista são minimizados com o uso de medicamentos, mas ainda não há substância capaz de reverter o transtorno.
Segundo Muotri, 55 mil novas drogas serão testadas até o final de 2015.
- Depois entraremos com testes clínicos (em humanos), isso se tudo correr bem e tivermos financiamento, claro – previu Muotri.
Tentamos levar boa parte disso para o Brasil, buscando deixar o país mais independente nessa área, mas não houve interesse político.

Esperamos que nos EUA as coisas andem mais rápido e que, eventualmente, sejam aplicadas no Brasil também.

Um comentário:

  1. Aqui, a política direciona imensos recursos financeiros para coisas patéticas e circenses, a exemplo dos R$ 35 bilhões, via BNDES, destinados as obras superfaturadas nos estádios de futebol. Uma vergonha o descaso político brasileiro ao autismo.

    ResponderExcluir